26 de jan. de 2009

Ah, a doce juventude. Fazer o que der na telha.
Ah, a telha. Tão linda. Toda vermelhinha que os pais de Claudinho acabaram de colocar na casa. “Espero que dessa vez você pare de passear pelo telhado da casa pra ver a vizinha, isso não é coisa que se faça e já quebrou muitas telhas por causa disso!”.
“Não vou fazer”, era o que Claudinho sempre respondia.
Na mesma tarde, quando abriu a geladeira, deparou-se com uma linda cartela de danoninhos. Ah, os danoninhos. O suave sabor de morango feito estranhamente de uma combinação inusitada de queijo. Claudinho amava. Mas não podia. Não, não podia comê-los. Era o café da manhã de seu irmão Julinho. “Nem adianta ficar aí com esses olhos esbugalhados. Sabe que eles são do seu irmão.”
E o que fazer com a impossibilidade de andar de skate dentro ou fora da casa. “Por que afinal de contas me deram o skate se é pra eu não andar?”, pensava Claudinho. Ah, o skate. Meio de transporte, esporte, um mundo em um pedaço de madeira. “O chão está encerado menino. Nem pense em fazer isso também...
...E não quero mais aquele seu amigo mal encarado aqui em casa, muito menos que fiquem jogando vídeo game ao invés de estudar.”
E não isso e não aquilo. Ah, as proibições. Para um adolescente não dava, eram demais.
Claudinho teve a inédita idéia de fazer tudo o que quisesse antes de seus pais voltarem. Oras, o que os olhos não vêm, o coração não sente.
“Vou começar subindo na telha pra ver a Laurinda”. E lá foi Claudinho. Linda Laurinda tomando banho de sol. Ela virou os olhos e se deparou com o menino lá em cima do telhado. Deu um grito que parecia ter surgido dos pés dela, tamanha foi a intensidade. Claudio Ricardo (já imaginou sua mãe gritando) levou um susto enorme, pisou errado em uma das novas telhas fazendo um buraquinho no telhado da casa.
Correu pra dentro e viu o tal furinho. Mas a noite não ia dar pra ver. E passou pro segundo passo. O danoninho. Hummmmmm. Delicioso. Embrulhou o pote da delícia da culinária moderna entre muitos guardanapos e jogou cuidadosamente no lixo. Pegou o telefone satisfeito e ligou pro Marcelino marcando uma tarde de vídeo game! Em poucos minutos lá estavam os dois. Curtindo a adrenalina do Tony Hawk, enquanto os livros ficavam ao lado solitários. Com toda a emoção do jogo, Claudinho pegou seu skate pra tentar algumas manobras parecidas com as do game. Quando começou a andar de skate...


...Sua mãe chegou mais cedo do trabalho. Assim que ela colocou o primeiro pé dentro de casa, Marcelino correu pro lavabo e fechou a porta... Mas Claudinho, no susto, caiu do skate e tentou se segurar na maçaneta da porta mais próxima. Segurou nela e abriu-a revelando seu amigo que no susto derrubou o lixo mostrando que guardava entre tantas coisas um bolinho de papel que se desenrolou mostrando o danoninho, enquanto o skate continuava correndo pela sala e batia na mesa onde estava o vídeo game que caiu e puxou a mala da escola que estava ao lado derrubando os livros que estavam dentro apresentando as páginas todas em branco. No chão, Claudinho olhou pra mãe que jazia atônita ainda na entrada. Nesse momento, ouviu-se um trovão e imediatamente se seguiu uma chuva densa que entrava pelo furinho da telha.


Sorte de hoje: Se você não quer que ninguém saiba, não faça

25 de jan. de 2009

Pedro Marcos era um rapagão de muita, mas muita pouca sorte. Jogava pra perder, perdia pra jogar.
Vale lembrar, no entanto, o bom e velho ditado... “Azar no jogo, sorte no amor”.
Vale lembrar mesmo, pois pra Pedro Marcos o amor era simplesmente impossível. Perdia na concorrência desleal entre tantos rapagões mais rapagões do que o rapagão do Pedro Marcos.
Linda e bela Honória. Que belos cabelos e que belo sorriso e que delicioso perfume e que brilho nos olhos e que pele mais macia e que boca mais sensual. Quantas qualidades. Essa é minha, pensou Pedro Marcos. O destino o fez encontrá-la, ali naquele magnífico lugar. Uma forma de arquitetura extremamente moderna, com a luz radiante do Sol a iluminar as pessoas que por ali circulavam. Poucos estavam lá, é fato, já que eram quatro da tarde. Bom pra Pedro, que pôde vislumbrar Honória por mais tempo sem a concorrência de outros olhares. No momento em que a porta automática daquela bela estrutura urbana se abriu, uma leve brisa acariciou os cabelos de Honória, que tossiu um pouco com a fumaça do biarticulado que esperava por ela.
“Entro no ônibus ou não? O destino me colocou frente a frente a essa mulher. E não posso perder essa oportunidade.”
Foi então que o destino se aproximou de Pedro Marcos e disse: “Reveja seus conceitos meu querido, não se esqueça do que eu sempre mostro a você. Você é um perdedor. Vai perder essa mulher também.” Como podia o destino ser tão duro com Pedro Marcos. Palavras de deixar qualquer um pra baixo.
“Não, Pedro Marcos. Chega de perder.”
Dessa vez, ele tinha que ir em frente! E foi no momento em que as portas já se fechavam. Segurou-as com uma das mãos fazendo esforço, tremendo, enquanto duas crianças corriam e passavam por baixo de seu braço aproveitando a oportunidade de não ter que esperar o próximo itinerário.
Atrás, o Destino ria e ria e ria. E repetia: Você é um perdedor! Um grande perdedor!Num momento desesperado, Pedro Marcos utilizou sua última arma e disse pro Destino, “olha ali...”
O Destino olhou...
Pedro pulou pra dentro do ônibus.
A porta fechou, ele correu em direção à Honória.
Quando o destino voltou os olhos à porta, Pedro já não estava mais lá. “Que bela peça ele me pregou!”


SORTE DE HOJE: Se o destino diz que você é um perdedor, pregue uma boa peça nele